A chance de jovens e adultos voltarem à escola

Rede CEJA abre novos caminhos para quem quer recuperar o tempo perdido

Um divisor de águas na vida. Foi assim que Andrea, aluna de 45 anos do CEJA Copacabana, definiu a escola. O Centro de Educação e Jovens Adultos é uma rede estadual de ensino semipresencial com um olhar individualizado para quem não pode estar em sala de aula e não concluiu os estudos na modalidade regular. Andrea sonha em cursar Direito. “Meu sonho é ingressar na faculdade, amo leis. Sonho em entrar na pública ou em conseguir uma bolsa na particular.” Os alunos estudam para as provas por fascículos, participam de aulões e podem tirar dúvidas com os professores. 

A professora de eletiva Maíra Ferreira Lima veio de família do magistério e acredita no trabalho político relacionado à educação. “O CEJA é importantíssimo, uma pena que a gente está passando por um processo de mudança que está virando um pouco a característica do CEJA. Ele cumpriu esse papel de personalizar o ensino, foi muito revolucionário como um braço da Educação de Jovens e Adultos de criar oportunidades para todos.” Maíra cita os dados estatísticos do Censo Escolar de 2024, que mostram uma queda de 20,4% nas matrículas. “Apesar da EJA e do CEJA serem modalidades importantíssimas, elas têm sofrido ataques sucessivos.” Maíra acredita que haverá uma inexistência desses ensinos e uma virtualização inviável para quem necessita deles.

O Conselho Nacional de Educação quer extinguir o Ensino Fundamental II nos CEJAS, mudança que preocupa professores e gera movimento nas redes sociais. “Jovens que precisaram parar de estudar, mães, pessoas que vivem nas periferias, trabalhadores e PcDs são prejudicados com isso”, declara o professor Marcelo Barbosa Felix. 

O CEJA oferece a modalidade do EJA em regime semipresencial. A rede virtual da escola permite que os alunos acessem os fascículos e façam exercícios. Os horários também são flexíveis para alunos que trabalham fora.

Estudante do Ensino Fundamental, Jozelma Araújo decidiu voltar a estudar para entrar na universidade. “Passei em Português, mas até queria fazer de novo”, brinca. “Queria fazer Nutrição, meu foco quando terminar os estudos seria Nutrição.” Jozelma prefere estudar de casa, mas também aproveita o espaço da biblioteca para estudar. “Para não perder o foco”, afirma.

Marcos, professor de física, acha motivador dar atenção individual aos alunos. “O que não acontece nas escolas regulares, onde a gente acaba tendo uma escola com 40 e todo mundo é igual, o que na realidade não são iguais.”

No dia 18/03 houve a reinauguração do espaço cultural Fernando de Sant’anna, onde a sala de leitura virou um espaço de cultura e estudos. É lá que estudantes como Andrea e Jozelma se preparam para as provas aplicadas em sala. Há o provão uma vez por ano, estilo vestibular, como outra alternativa para certificação do ensino médio. Apesar de não ser um ensino regular, a escola oferece aulões de todas as matérias com lanche e pontos extras para as provas, além de cineclubes e palestras.

Minha história

Os professores apoiam os alunos na volta à escola. Alguns chegam a ligar para estudantes afastados e incentivar o retorno. É o caso do professor de química que me ligou na minha época de estudante.

Eu fui uma das alunas do CEJA Copacabana. Não me adequei à escola regular e me atrasei nos estudos. Mesmo após me matricular, tive medo das críticas e não frequentava. Foi quando o professor me ligou e me motivou a seguir meu sonho de terminar o Ensino Médio e cursar Jornalismo na Federal. Enquanto estava na escola, conheci várias realidades. Desde adolescentes que entraram no CEJA porque passaram para a faculdade antes do tempo a senhoras que não tiveram a oportunidade de estudar. Apesar de não ser obrigatório frequentar todos os dias, eu frequentava. Fiz o pré-vestibular social indicado pelos docentes para reforçar o aprendizado. Quando passei para a UFRJ fui homenageada pela Fundação Cecierj, administração da Rede CEJA e do curso preparatório que fiz.

Neste atual cenário onde houve uma queda nas matrículas do Centro de Educação de Jovens e Adultos, essa matéria enfatiza sua importância e resistência.  

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