Jovem estudante autista faz duas faculdades e dá aulas de violino

Gabriela Lima Reis é autista, estuda na UFRJ e na UNESA. Em entrevista inspiradora e exclusiva, essa jovem conta como faz para conciliar tantas atividades. Estar no Espectro Autista nunca foi um impedimento para que ela mostrasse seu valor ao mundo. O Jornal Atípico, fundado por uma estudante de jornalismo autista, resolve contar histórias de outros autistas a fim de apaziguar o capacitismo estrutural.

Quais são as suas faculdades?

GABRIELA LIMA REIS: Estou no 10⁰ período da faculdade de enfermagem na UNESA/Norte Shopping e iniciando o 4⁰ período de Musicoterapia na UFRJ.

Como é a experiência de cursar duas faculdades?

GABRIELA LIMA REIS: É cansativo, mas gratificante. Preciso me organizar bem para não ficar sobrecarregada, principalmente nos períodos de entrega de trabalhos. Para isso, uso uma agenda com
minha rotina e eventuais mudanças, além de uma lista com prioridades. Como uma é pela manhã (enfermagem) e a outra pela noite (Musicoterapia), geralmente tenho momentos de descanso em casa. Priorizo ajustar outras demandas para estar perto de casa ou online e me desgastar menos. O que me cansa é o trânsito e muita socialização que as pessoas esperam em determinados momentos. Me facilita que determinados assuntos da Musicoterapia eu já vi antes de forma similar na enfermagem ou nos meus anos de estudo de teoria musical. Ao mesmo tempo reconheço que se precisasse trabalhar integralmente, não conseguiria fazer tudo o que gosto ou quero.

Como é a sua vida pessoal?
GABRIELA LIMA REIS: No momento, está bem corrida. Nem sempre tenho tempo de focar no que gostaria, como o estudo do violino ou violão, mas sei que isso melhorará até final do ano. Sou uma pessoa bem caseira. Venho de uma família grande e neurodivergente, então minha cota de socialização acaba fácil. Tenho alguns amigos que converso via whatsapp. Quando tenho mais tempo vago, gosto de passeios culturais ou na natureza, ler, cochilar, estudar música e passar um tempo com a família, minha cachorra e gata. Tento conciliar as demandas com o lazer e descanso, mas sei que em determinados
momentos não podemos fazer tudo. Estou de férias, então tenho estudado bastante o violino. Ultimamente, tenho estudado violino e violão, além de gravar vídeos aulas de violino no fim de semana para postar no meu canal no YouTube (Irmãos Lima Reis). Também quero
retornar a postar os textos de minhas vivências neurodiversas no Instagram (@Autismoemmelodia e @Gabi.LReis).

Você dá aulas de violino. Conte mais sobre suas aulas.

Minha experiência se iniciou ajudando minha irmã, na época com 5 anos, nas suas aulas online de violino na pandemia. Em 2022, comecei a dar aulas particulares e entrei como professora de violino na ong Casa Transitória, localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro. Nesse ano, também dei aulas de teclado para iniciantes. Ao longo desse tempo, comecei a me capacitar mais e adaptar técnicas de ensino,
principalmente do método Suzuki, para crianças e jovens autistas e TDAH, já que tenho muitos alunos assim. Em 2025 fui chamada para ministrar aulas coletivas de violino no Clubinho do Samba, no Centro Cultural João Nogueira (Imperator) para crianças e adolescentes. Está sendo bem interessante, pois tenho alunos com várias vivências, níveis de musicalização e demandas. Fico feliz de poder ajudar a construir o amor pela música, pelo violino e contribuir com a história de cada um. Tanto no ensino quanto na saúde, o vínculo com o estudante e seus familiares faz muita diferença. Não escondo ser neurodivergente, já que naturaliza as múltiplas possibilidades e habilidades que temos na vida.

Você está no espectro autista. O que diria para outros autistas que leram essa
matéria e se inspiraram em você?

É necessário lembrarmos que estamos sempre aprendendo e temos potencialidades. Às
vezes, a vida e outras pessoas são difíceis de entender, mas não podemos desistir. Cada
um tem sua história de vida e ficar se comparando ou pensando nos “talvez” não leva para
lugar algum. Ache algo que você ama. Se puder viver disso ou tornar parte da sua vida, maravilha.
Para mim, isso é a música. Em segundo, tenha algumas pessoas que além de amigos, possam ser sua rede de apoio quando necessário. Por último, tente viver novamente experiências, mas não se desgaste demais. Isso pode trazer novos gostos para a sua rotina.

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