
Se tem uma capital brasileira que sabe reunir poesia, música, encontros genuínos e aquele momento de partilha ao redor da mesa, é Belo Horizonte. Foi lá, no coração da cidade – na imponente Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, bem na Praça da Liberdade – que nasceu o Sarau Minas de Poesias, um dos movimentos culturais mais afetivos e inspiradores que já vi.
Criado com o propósito de celebrar a literatura mineira e universal, o Sarau Minas de Poesias vem, há meses, abrindo espaço para vozes de todas as idades. Nascido do entusiasmo criativo do produtor cultural Paulo Siuves e atualmente coordenado por ele ao lado de Úrsula Avner, o encontro transformou a Biblioteca, em um prédio de 1954 projetado por Oscar Niemeyer, em um grande palco de quem acredita no poder da palavra. Embora BH seja palco de dezenas de saraus dos mais diversos – eróticos, musicais, de duelo poético, para todas as idades e gostos –, o Minas de Poesias se destaca por suas peculiaridades. Além da atmosfera histórica do prédio, o evento surgiu para propor um encontro que unisse literatura, artes visuais, performance e diálogo em um espaço público de grande valor simbólico, devolvendo a palavra falada ao centro da experiência cultural mineira.

O FORMATO
O sarau tem uma programação pensada com zelo: sempre há um painel temático, que pode abordar desde a literatura feminina até discussões sobre o corpo e a criação poética, passando por diálogos sobre história, identidade e as pontes entre palavra escrita e performance.
A cada edição, o sarau ocupa o Teatro José Aparecido de Oliveira, que fica dentro da Biblioteca. Logo ao chegar, os visitantes se deparam com um hall de entrada acolhedor: na entrada do teatro, à direita, está a biblioteca infantil. E, andando em frente, a entrada do teatro propriamente dita e as mesas da mini feira literária, onde autores independentes e pequenas editoras expõem seus livros, zines e publicações autorais. Tudo isso em clima de proximidade, como quem convida para olhar o que nasceu no quintal de casa. É o lugar perfeito para descobrir novas vozes e levar uma dedicatória personalizada na mala.
O encontro começa com o microfone aberto, que também encerra a noite. Ali, qualquer pessoa pode subir ao palco e declamar seus versos – sejam eles tímidos rabiscos ou obras amadurecidas. Entre esses dois momentos de pura partilha, a programação brilha com um painel temático e uma performance artística, sempre pensados com dedicação. E é esse equilíbrio entre programação estruturada e espontaneidade que faz o público voltar. Ao longo das edições, já passaram pelo palco discussões sobre escrita autobiográfica, corpo e literatura, poesia marginal e muitos outros temas. Um dos momentos mais comentados foi a apresentação “Mulheres em Cena”, um experimento cênico que entrelaçou versos e teatro de forma emocionante.
Outro ponto alto vem ao fim: depois de tantas palavras compartilhadas, todos se reúnem em volta de uma mesa cuidadosamente preparada com quitutes que variam a cada edição – canapés, bolachas, pequenos lanches. O que não muda é o valor sentimental: um gesto de acolhimento que faz cada participante se sentir parte de uma grande família literária.
ALGUNS CONVIDADOS ILUSTRES
Ao longo de suas edições, o Sarau Minas de Poesias recebeu nomes que brilham nos palcos e nas páginas. Entre eles, Camila Dió, escritora e professora, que encantou a plateia com seu painel sobre a escrita de si; Lucas Creido, que discutiu de forma provocadora “O corpo na literatura: a busca pelo homicídio perfeito”; e a apresentação de “Mulheres em Cena”, um experimento cênico que entrelaçou versos e teatro de forma inesquecível, mostrando como o sarau é um verdadeiro laboratório de linguagens.
O CLIMA
Contudo, o que mais define o Sarau Minas de Poesias é o que acontece depois que as luzes do palco se apagam. Ao final, todos se reúnem em volta de uma mesa cuidadosamente preparada com quitutes. Às vezes são canapés, outras vezes bolachas e pequenos lanches. O cardápio pode variar, mas o valor sentimental só cresce. É um gesto de confraternização, um abraço coletivo que transforma o público em uma grande família literária e materializa o melhor da tradição mineira: a prosa boa que varre a noite.
O que mais chama atenção é o clima de pertencimento. Você não precisa ser expert em poesia para se sentir bem-vindo. Jovens, senhores, professoras, leitores, curiosos – todos se misturam num ambiente caloroso que lembra o melhor da tradição mineira: portas abertas, afeto compartilhado e aquele jeito de receber que faz qualquer visitante se sentir em casa.
POR QUE VALE A VIAGEM
Para quem, como eu, vem do Rio ou de qualquer outro canto do Brasil, visitar o Sarau Minas de Poesias é muito mais que assistir a um evento. É experimentar Belo Horizonte de dentro, respirando seus afetos, suas artes e aquele jeito mineiro de receber que conquista qualquer um. E se você é artista ou escritor, vale saber que a produção acolhe inscrições para participar dos painéis e da feira – uma ótima oportunidade para fazer contatos e compartilhar seu trabalho.
O sarau acontece uma vez por mês, sempre numa quarta-feira à noite, no Teatro José Aparecido de Oliveira, dentro da Biblioteca Estadual de Minas Gerais, na Praça da Liberdade. A entrada é gratuita, e a programação completa costuma ser divulgada nas redes sociais do evento – vale ficar de olho, porque cada edição tem novidades e convidados especiais.
Então, fica aqui meu convite: se você planeja uma escapada cultural, anote no roteiro. O Sarau Minas de Poesias é daqueles programas que fazem a gente sair mais leve, inspirado e com vontade de abrir logo o caderno e escrever a própria história.
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