O sucesso profissional de Tabata Cristine: conheça sua trajetória

Uma pessoa de fala mansa que nunca aceitou as coisas como elas são. Essa é a definição que Tabata Cristine faz de si mesma, mas poderia ser diferente. Com todo o seu sucesso nas redes sociais, Tabata se mostra humilde, firme e leve ao mesmo tempo. Em entrevista exclusiva, sua profundidade e maturidade estavam explícitas a cada fala. Quando perguntei do início de seu Instagram, Tabata, com muita sinceridade, fez uma retrospectiva sobre seu trabalho com conteúdo.

Olha, eu acho que seria mais sincero antes de falar do início do meu Instagram, eu acho que falar do meu início com criação de conteúdo. Porque o Instagram não foi a primeira questão, a primeira coisa que eu fiz nessa área (de criar conteúdo). E às vezes eu vejo que as pessoas, elas se comparam muito com as histórias das outras, e acham que, ah, “eu não sou boa nisso, eu sou um fracasso, eu não vou conseguir fazer.” Então eu acho importante ser verdadeira com a minha trajetória. Até porque outras pessoas podem se inspirar nela.

Trajetória na internet

Tabata conta que sempre gostou de gravar coisas. Quando criança, brincava de se gravar com as famosas cybershots. Criava histórias, teve blog, fotolog e foi famosa em todas as redes sociais que já teve. “Eu fui famosinha no Orkut, eu fui famosinha do Facebook. Eu sempre gostei de criar conteúdo, sempre foi uma diversão pra mim. Hoje, enquanto neurodivergente, eu entendo que criar conteúdo pra mim sempre foi um espaço onde eu podia ser eu. Onde eu podia existir por completo. Com as minhas angústias, as minhas ideias, as minhas verdades, a minha imaginação, ela podia ir pra qualquer lugar, e eu me sentia livre. Então, pra mim, criar conteúdo nunca foi sobre ser famosa, sobre trabalho, sempre foi sobre poder existir em algum lugar desse mundo que não parecia feito pra mim.”

“Eu respiro.
Repito meu processo íntimo,
Tão íntimo quanto as horas de um ponteiro,
A dor do recomeço se apaga,
E também cessa o desespero.
Vejo os anjos me seguindo,
Um sonho tão gentil!
Vejo vínculos e abrigos,
Meu abraço juvenil.
Enxergo dores de amores,
O passado já serviu.
Eu me tenho como as asas,
Desses tempos,
Desse frio,
O amargo anterior,
Do amor que começou.
Finalizo os versos meus,
Com o suspiro do entendimento,
De viver.”
A pedido de Tabata, deixo alguns poemas da autoria da jornalista Letícia Mariana na matéria.
 

O poder dessa trajetória e o passado

Trazer quem está distante pra perto. Para Tabata, esse é o poder da internet. E foi assim que ela se sentiu durante a sua criação: próxima das pessoas. O que ela nunca imaginaria era que o seu público iria de zero a 170 mil. Apesar de tanto sucesso, Tabata se achava ruim no início.

Eu era muito ruim, eu acho que isso é importante deixar, o quão ruim eu era fazendo esse trabalho no YouTube, porque foi o meu primeiro trabalho em vídeo para internet, eu estava acostumada até então a escrever textos, né, e eu acho importante a gente deixar claro que ninguém nasce sabendo, salvo se você tem um talento muito específico, e eu acho que isso é uma grande frustração das pessoas, elas querem começar perfeitas, e isso muitas vezes, na grande maioria das vezes, não vai acontecer, e comigo também foi dessa forma, eu comecei sendo péssima, era horrível, eu parecia um robô, um personagem completamente deslocado ali, sabe, só que mesmo sendo péssima, eu ainda entendo que eu era melhor do que muitas pessoas poderiam ser, porque eu sempre tive uma habilidade de comunicação, é onde eu tenho a maior pontuação, digamos assim, da minha superdotação, então eu entendo que sim, eu tinha uma questão diferente aí, e aí a gente entra em outro ponto que eu gostaria muito de destacar quando a gente fala da minha trajetória nas redes sociais, que é o quanto eu fui desestimulada a fazer esse trabalho.

Com um relacionamento abusivo na época de seu primeiro trabalho audiovisual. Tabata era desestimulada a continuar. Outras pessoas tratavam o seu trabalho como algo infantil, bobo e não levavam em consideração. “As pessoas tentavam tratar como algo bobo, infantil, desnecessário, perda de tempo, assim como a gente sempre tratou o que é arte, a arte sempre foi coisa de vagabundo, ela sempre foi desnecessária, e pensa, um canal que tinha um nome que era voltado a estimular uma reflexão crítica, pensar é perda de tempo, sempre foi, filosofar sempre foi perda de tempo, a gente precisa o quê? Produzir, então as pessoas me mandavam trabalhar, e eu trabalhava, mas as pessoas partiam de um pressuposto que eu não trabalhava CLT na época, porque eu estava criando conteúdo.”

Tabata relembra com tristeza quando fingia ser heterossexual para ser aceita. Após gravar um vídeo sobre se aceitar, decidiu praticar o que acreditava e terminar o seu relacionamento. “Eu me senti hipócrita de estar fazendo um vídeo sobre se aceitar, enquanto tudo que eu fiz até então era não me aceitar. Então terminei o relacionamento, terminei o canal, me assumi para mim mesma, eu sempre digo que eu nunca me assumi para a sociedade, eu não estou nem aí para essa sociedade, eu precisava me assumir para mim como lésbica, e logo em seguida fui para a terapia, descobri quem eu sou, porque eu não fazia ideia, eu sempre vivi escondida na internet e na vida real, performando.”

E foi na terapia que Tabata recebeu o diagnóstico de TDAH. Após 1 ano e meio, veio o diagnóstico de autismo. “Passou aí, de fato, um ano e meio, mais ou menos, veio o diagnóstico de autismo e veio como uma avalanche para cima de mim, porque até então era TDAH, agora eu sou autista. E aí eu fiquei nessa, é TDAH, é autista, é os dois, é o quê? Isso estávamos, então, em 2018. Foi em 2020 apenas que eu consegui uma consulta médica que me confirmou que eu sou autista e TDAH, porém, uma consulta que nunca me disse o que é ser autista e TDAH. E foi assim que começou o meu trabalho na internet, no Instagram. Quer dizer, meu trabalho na internet começou desde sempre. O que começou em 2020 foi o meu mundo atípico no Instagram, com o objetivo de me conectar com pessoas, assim como eu já fazia muitos anos antes, de outras formas, me sentir menos solitária e perdida, porque foi assim que eu me senti, não tinha conteúdo nenhum sobre autismo na vida adulta e eu nunca tive a intenção de ser precursora de nada, até porque tinha o Leo Akira, tinha o Marcos Petry, que falava um pouquinho sobre autismo em adultos, mas mais em crianças, mais tinha. Tinha a Carol Nobre começando com Autizando na época, tinha a Bianca Galvão, que começou ali na mesma época que eu. Então, assim, eu nunca pensei em ser precursora desse movimento. Tio Faso também estava nessa época, maravilhoso, saudades, inclusive, dessa galera toda. Até então, o que hoje é Autie Sincero era Aspie Sincero, que também, nossa, maravilhoso, muito fofo. Eu só queria poder encontrar pessoas, ajudar pessoas, me ajudar, que a gente pudesse criar um grupo onde a gente se sentisse menos sozinho. Eu nunca imaginei que esse grupo teria 170 mil pessoas algum dia, mas eu fico muito feliz de ter. É um sonho realizado, não posso negar, é um sonho realizado, mesmo, de todo o meu coração.”

Eu não me arrependo de toda a rebeldia que eu tive no começo. Eu acho que, infelizmente, às vezes, a gente precisa ser um pouco mais enérgica. Eu sei que hoje a gente já tem autista palestrando em evento, a gente tem autista na televisão, a gente tem autista fazendo, às vezes, publicidade para a marca, a gente tem autista sendo considerado para vagas de emprego tradicionais, porque a gente, infelizmente, teve que brigar de forma mais intensa, mais enérgica, mais calorosa, sabe?

A criança que Tabata já foi está alegre com quem ela se percebe hoje. E não apenas se percebe, mas de fato é. “Nossa, essa criança, ela fica tão feliz de poder fazer isso, de falar, poxa, finalmente alguém me ouviu com carinho, e finalmente alguém se sentiu feliz ao me ouvir com carinho, e não com raiva de mim, como era lá em 93, 94, 95, e foi assim quase a minha vida toda, né? Então, cada tipo de conteúdo tem a sua magia, a sua essência, o seu valor para mim, sabe?”

A polêmica da palestra

A realidade dos eventos sobre inclusão nada inclusivos. Tabata sabe bem disso. Foi daí que surgiu a polêmica da palestra. “Como, por exemplo, me chamarem de palestrante furona. Por quê? Porque fiquei doente. Desmaiei no avião. Tive uma série de problemas, desde crise de ansiedade, sobrecarga sensorial. Porque o meu avião meio que perdeu conexões. E aí eu fiquei perdida em Brasília. Eu vinha de Roraima. Nossa, foi um caos na minha vida. E eu não consegui comparecer a essa palestra. Eu avisei com antecedência. Eu devolvi o cachê. Mas, ao falar a realidade dos eventos sobre autismo, que não são feitos para autistas, essa organização de eventos se enfureceu e começou, de fato, me atingindo, querendo falar calúnias sobre mim. Porque se tem uma coisa que eu não sou, é furona. Eu tinha uma força maior pra não comparecer, né?”

Tabata relata receber poucas críticas em seu trabalho. Mas nem tudo são flores. “Eu não recebo tantas críticas ao meu trabalho. O que eu recebo são pessoas, de fato, tentando me parar. Tentando me silenciar, me boicotar. Isso tem muito, muito, muito. E não é uma coisa que acontece só comigo. Então, se você pensa em criar conteúdo, é importante que você entenda que, assim como qualquer profissão, quando você se destaca, vão querer te parar. Porque vai incomodar muita gente. Porque o mundo capitalista, ele só pensa em dinheiro. E quem se destaca atrapalha o outro de ganhar o dinheiro que ele quer. Porque ele acha que ele tem que ganhar todo o dinheiro sozinho. Não dá pra dividir. Então, ele vai tentar te parar. E isso é uma coisa que eu demorei muito pra aprender. Tinha uma psicóloga que sempre falava, o emprego que se destaca leva mais martelada. E é verdade.”

A minha vida foi uma luta constante pra mudar o mundo pra que eu pudesse existir nesse mundo.

Infância

Com infância desafiadora, a pequena Tabata gostaria de poder tomar chocolate assistindo desenho sem se preocupar. Pois, naquela época, não era bem o que ela fazia. Ela precisava mudar o mundo. E mudar o mundo era um fardo para aquela menina atípica dos anos 90. “Eu sempre fui lésbica. Imagina você ser uma criança lésbica nos anos 90. Entende o tanto de opressão que eu sofri?  Porque apesar de eu não falar sobre, eu não entender ainda o que era, as pessoas me podavam. Até hoje eu não entendo como que em 98, quando eu estava na segunda série, eu não pude dançar  com a menina que eu queria na festa junina da escola e tive que dançar com o Diego. Diego, se você estiver lendo essa matéria, eu não tenho nada contra você. Eu só não queria estar dançando com você.”

Ela certamente mudou o mundo das redes sociais. Corajosa, cheia de energia e carinhosa, seu público cresce a cada dia. E ela ressalta que a arte sempre foi sua forma de expressão de quem ela é, e que todos podem aguardar novidades que ela está preparando. “Algo bem especial que está por vir”, afirma.

Como eu disse em um dos meus poemas: levanto após cada dor, levanto após a saída, sou minha salvadora, sou águia que voa pra vida. Assim é Tabata: águia que voa pra vida.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*