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O mundo moderno está em constante busca por novas formas de entender e expressar o afeto humano. Em meio a essa jornada, um conceito vem ganhando espaço, embora ainda de forma discreta: a carminissexualidade, um termo cunhado pelo poeta brasileiro Paulo Siuves.

A carminissexualidade não se enquadra nas categorias tradicionais de orientação sexual. Ela se manifesta como um desejo afetivo e estético pela poesia em si, pela linguagem e pela construção textual, e não necessariamente pelo autor como indivíduo. Trata-se de uma atração que se dirige à obra poética como um objeto de desejo.

O conceito, de base filosófica e interdisciplinar, pode ser compreendido a partir de diferentes perspectivas:

  • Fenomenologia: valoriza a experiência sensorial e emocional da leitura. O desejo é focado na poesia como objeto estético.
  • Existencialismo: a poesia é vista como expressão da subjetividade humana. Desejar a poesia representa uma busca por sentido e conexão existencial.
  • Hermenêutica: a leitura é interpretação subjetiva, onde o leitor cria significados a partir de suas próprias vivências.

Segundo o próprio Paulo Siuves, que usou a sua relação com os poemas de Lin Quintino como estudo de caso, o desejo não se dirige à autora, mas à “atmosfera sensual e envolvente” de sua linguagem poética. A atração estética e emocional que os poemas despertam “ultrapassa o mero entretenimento”.

Embora o termo “carminissexualidade” não seja reconhecido oficialmente na terminologia acadêmica, ele se insere em um campo mais amplo que investiga a atração estética e as conexões emocionais com a arte e a poesia. Não existe ainda um conceito único e universalmente aceito que corresponda exatamente a ele, mas há noções próximas que ajudam a compreendê-lo:

  • Atração Estética – descreve o fascínio pela beleza, forma ou expressão, sem necessariamente envolver desejo romântico ou sexual.
  • Aisthesis – do grego, “percepção sensorial”. Refere-se à experiência da beleza captada pelos sentidos, conectando-se diretamente com a vivência poética.
  • Ars Poetica – tradição literária em que a poesia reflete sobre si mesma. Poemas que exploram a carminissexualidade podem ser lidos como uma ars poetica, pois tematizam a relação estética e afetiva com a palavra.

Essa aproximação mostra que a carminissexualidade não trata da atração por um “tipo de pessoa”, mas sim por uma “experiência de beleza”. A conexão com a poesia pode ser tão intensa quanto a conexão humana, e, em certos casos, até se confundir com a atração pela própria figura criadora da obra.

O conceito sugere, portanto, que a carminissexualidade pode ser vista como uma forma de amor platônico pela arte, uma conexão espiritual e estética com a linguagem poética. É uma experiência que desafia as categorias convencionais de orientação e propõe uma nova maneira de se relacionar com a arte e com o mundo através dela.

A literatura, nesse contexto, deixa de ser um objeto distante para se tornar um “corpo vivo, pulsante”. A cada leitura, o texto se renova e estabelece laços profundos com o leitor. Ao reconhecer o desejo como força motriz da leitura, a carminissexualidade amplia a compreensão da literatura como uma experiência afetiva e um espaço de encontro, paixão e transcendência.

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4 thoughts on “O amor pela língua: a descoberta da carminissexualidade

  1. Este ser humano chamado artisticamente de Paulo Siuves é um poeta brilhante, um cientista pesquisador, um escritor espiritualista de uma alta sensibilidade artística e capacidade sensorial inata para conseguir expressar tanto em uma nova palavra disruptiva para a literatura como para explicar esta palavra “carminissexualidade” com uma clareza que chega a ser transparente para as pessoas sensíveis. Parabéns poeta!

    Eu me sinto exatamente assim, com esta paixão e intrínseca conexão quando estou frente a frente com o sentimento e o manejo das palavras, frases e reflexões escritas, ouvidas ou lidas. É um afeto estonteante de total entrega e prazer desde o ato de sentir e pensar até o ato de transcrever em palavras e falas o que um poeta ou uma poetisa tem em seu coração vivo e pulsante. E ao final de cada obra nos sentimos inacabados e a semente que Deus plantou em nós começa a latejar na terra fértil das nossas emoções de novo e de novo, num movimento que nunca cessa.

    Gratidão amigo!

    Marisa Luz – 03-09-2025

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