As eleições de 2026 se aproximam com um peso histórico e simbólico inegável. Após ciclos políticos marcados por crises institucionais, instabilidade democrática e polarização crescente, o Brasil caminha para mais uma encruzilhada decisiva. A perspectiva do futuro político do Estado brasileiro exige, portanto, uma análise multidisciplinar, que vá além da superfície eleitoral e adentre os fundamentos da Teoria do Direito, da Teoria Política e da ontologia do embate ideológico entre direita e esquerda. Do ponto de vista jurídico, o Estado brasileiro tem enfrentado uma erosão da normatividade constitucional. A Constituição de 1988, marcada pelo espírito democrático e pela busca de um pacto social inclusivo, tem sido tensionada por interpretações divergentes e instrumentalizações políticas. A teoria do Direito, especialmente em sua vertente crítica, denuncia o uso seletivo da legalidade como ferramenta de poder, revelando uma crise de legitimidade dos operadores jurídicos e das instituições. As eleições de 2026, nesse cenário, representam mais que uma disputa eleitoral: são um teste da capacidade do sistema jurídico de garantir a integridade do processo democrático. O papel do Supremo Tribunal Federal, do Tribunal Superior Eleitoral e das demais instâncias do Judiciário será decisivo para manter o equilíbrio institucional. A preocupação não reside apenas na legalidade formal, mas na efetividade dos direitos fundamentais e na preservação das garantias democráticas.
Na esfera da Teoria Política, o Brasil experimenta um esgarçamento do contrato social. A representação política tradicional perdeu credibilidade diante da sociedade civil, que, desiludida com os partidos e com os sistemas de governança, buscou alternativas nas margens do sistema, muitas vezes em discursos autoritários ou utópicos. A lógica liberal-representativa, que sustenta a democracia moderna, sofre abalos frente a uma crescente demanda por protagonismo direto, ainda que desorganizado e difuso.
A ausência de consenso razoável sobre os fundamentos da justiça e a deslegitimação do diálogo público favorecem o surgimento de extremos políticos que operam em lógicas maniqueístas, em que adversários são convertidos em inimigos. A eleição de 2026 pode ser a oportunidade de reconstruir canais de mediação política, desde que as forças em disputa aceitem as regras do jogo democrático e valorizem o pluralismo como princípio.
Para além da análise jurídica e política, a polarização entre direita e esquerda no Brasil contemporâneo assume contornos ontológicos. Trata-se não apenas de uma divergência ideológica, mas de uma disputa sobre os próprios fundamentos da realidade social. Cada campo político constrói uma narrativa totalizante sobre o país, seus problemas e suas soluções. A verdade é segmentada por filtros ideológicos, e o espaço comum de linguagem e entendimento desaparece. Essa ontologia da polarização compromete o próprio ser coletivo. A identidade política torna-se existencial: ser “de esquerda” ou “de direita” ultrapassa o campo do debate e se transforma em modo de habitar o mundo. O outro não é apenas alguém com ideias diferentes, mas alguém cuja existência representa uma ameaça. Tal lógica é corrosiva para a democracia, que pressupõe justamente a coexistência de diferenças dentro de um pacto institucional.
Quando o espaço público é destruído pela desconfiança radical, resta apenas a violência como forma de resolução de conflitos. O desafio ontológico, portanto, é recuperar uma linguagem comum, um espaço de alteridade no qual o outro possa ser ouvido sem ser anulado.
As eleições de 2026 serão mais do que uma escolha entre candidatos: serão um momento de definição sobre qual Brasil queremos construir. Será preciso enfrentar as fragilidades do sistema jurídico, revitalizar a representação política e, sobretudo, reconstruir os fundamentos ontológicos do convívio democrático. Não haverá futuro estável para o Estado brasileiro enquanto a política for vista como guerra e o direito como arma.
A superação da polarização não significa o fim das diferenças, mas o reconhecimento da legitimidade do outro. É essa consciência que poderá devolver à política brasileira sua dimensão mais nobre: a arte de construir o comum a partir do diverso.

