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Para onde vamos se destruirmos o planeta em que vivemos? O conhecimento humano sobre o Universo é limitado e não estão descartadas possibilidades de vida extraterrestre. Contudo, até então, sabemos que apenas um planeta tem condições de abrigar a biodiversidade do qual faz parte nossa espécie: a Terra. Nosso planeta apresenta um conjunto de características consolidadas ao longo da evolução, tais como grandes reservas de água no estado líquido, proteção contra a radiação solar e temperaturas que variam dentro de limites graças à presença de nossa atmosfera.


Vale esclarecer que o Efeito Estufa em si não é maléfico. Ele é que mantém na Terra os limites térmicos favoráveis à vida. Contudo, quando a emissão de certos gases por atividades humanas intensifica o Efeito Estufa, provoca-se o que chamamos de Aquecimento Global, um fenômeno de longo prazo que tem levado ao aumento da temperatura média da superfície da Terra. Este cenário vem impulsionando mudanças climáticas em todo o mundo, afetando o delicado equilíbrio dos ecossistemas,
ameaçando seres vivos em geral e as sociedades humanas.


Crianças e jovens em risco


As consequências das mudanças climáticas afetam diretamente a vida e o bem-estar
de todos. Não é preciso ser cientista para perceber como o planeta vem mudando. Aspectos como saúde pública, segurança alimentar, desigualdade de gênero, racismo, equidade intergeracional, violência e sustentabilidade ambiental, dentre outros, estão entrelaçados. A balança ambiental mostra que os países mais impactados por questões climáticas em geral são aqueles que menos contribuíram para o cenário
global preocupante. Estima-se que os países ricos vêm utilizando os recursos da Terra num ritmo que exige entre 3 a 9 planetas para manter seu modo de vida. Isto é claramente insustentável. O princípio da sustentabilidade implica na capacidade de atender às necessidades do presente sem comprometer a vida das gerações futuras.


Os dados indicam que sem um esforço climático coletivo urgente, crianças e jovens suportarão toda a força dos impactos das mudanças climáticas. Essa consciência vem colaborando para maior mobilização de jovens em movimentos climáticos por todo o mundo, pressionando governos e sociedade civil para ações imediatas de enfrentamento à crise.


Nem todo mundo enfrenta a tempestade no mesmo barco


Embora as emergências climáticas afetem a Terra como um todo, alguns sofrem e sofrerão mais. Crianças e jovens que vivem em países pobres, pertencem a minorias étnicas ou grupos historicamente desfavorecidos, são mais vulneráveis aos impactos climáticos. As comunidades que enfrentam racismo ambiental frequentemente vivem em áreas com maior risco de desastres ambientais, como enchentes e contaminação do solo. A localização geográfica também faz com que certos países sejam mais
afetados do que outros. Mais de 3 bilhões de pessoas vivem atualmente em áreas altamente vulneráveis na África, Sul da Ásia, América Central e do Sul, pequenas ilhas e no Ártico. Até a desigualdade de gênero, um problema que tem desdobramentos que vão desde ao preconceito implícito ou explícito, violência em suas múltiplas formas e oportunidades assimétricas de estudo e trabalho, é ampliada com a emergência climática. Dados apontam que meninas e adolescentes são as primeiras a serem excluídas da educação formal quando ocorrem eventos climáticos severos e suas famílias lutam pela sobrevivência com recursos limitados.

A importância do evento


Por essas e outras questões, o Brasil está no centro das atenções. Belém do Pará sediará agora em novembro a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30). Trata-se de um evento cercado de expectativas em função da urgente e necessária intensificação da ação climática global, com foco na implementação de ações efetivas e concretas. Tem ainda maior significado ser realizado na região amazônica, de grande importância ambiental e cenário de conflitos de interesses. Espera-se na COP 30 fortalecer os compromissos assumidos pelos signatários do Acordo de Paris, principalmente no que se refere à redução de emissões de gases de efeito estufa e ao financiamento climático, além de debater outros temas como energia renovável (solar, eólica etc.), preservação de florestas e justiça climática. Vale lembrar que o Acordo de Paris corresponde a um tratado internacional cujo objetivo é reduzir emissões de gases do efeito estufa, buscando conter o agravamento do aquecimento global. Ele resultou da COP21, realizada em 2015 substituindo o Protocolo de Kyoto. Somente quatro países não fazem parte do Acordo de Paris, sendo um deles os Estados Unidos, que deixaram o tratado pela segunda vez em janeiro de 2025. Contudo, assinar um acordo infelizmente não quer dizer que o compromisso daquela nação com o planeta saia de fato do papel. A União Europeia, por exemplo, voltou atrás em sua meta climática às vésperas da COP 30. A nova proposta flexibiliza objetivos de redução de emissões e amplia prazos para alguns setores industriais. A maior parte dos países entregou com atraso à ONU suas novas metas climáticas, as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês). Apenas os Emirados Árabes Unidos, Brasil, Uruguai, Suíça, Reino Unido, Nova Zelândia, Andorra, Santa Lúcia, Equador, Zimbábue, Cingapura e Ilhas Marshall foram pontuais na entrega de suas NDCs. A ausência (e pressão contrária) do maior emissor histórico de gases
estufa -os Estados Unidos- torna ainda mais importante que outros grandes emissores e economias mundiais assumam um papel de destaque no enfrentamento da crise climática.

O planeta no limite


O Acordo de Paris estabeleceu a meta-limite de 1,5°C para evitar eventos climáticos extremos como secas, elevação do mar, enchentes e colapso de geleiras. Contudo, estudos recentes revelam que provavelmente já ultrapassamos esse ponto crítico. O planeta Terra caminha para até 2,5°C de aquecimento até o fim do século, alerta o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Os novos compromissos climáticos não são suficientes para reduzir as projeções de aquecimento global. O agravamento da crise tem relação com todos os setores da economia que emitem gases estufa, mas o desmatamento e as mudanças no uso da terra são os principais responsáveis por mais da metade do aumento das emissões. As metas do Brasil no Acordo de Paris incluem reduzir as emissões de gases de efeito estufa, restaurar florestas, eliminar o desmatamento ilegal e ampliar o uso de energias renováveis. O país atualizou recentemente a meta, com o compromisso de reduzir as emissões em 59% a 67% até 2035.


O perigo do negacionismo climático


Um entrave para o avanço do enfrentamento da emergência climática reside na militância de negacionistas climáticos, uma vertente de adeptos do negacionismo científico que também assombrou o mundo na pandemia de SARS-COVID 19 com campanhas anti-vacina e outras ações. Trata-se de grupos e indivíduos que negam a realidade do aquecimento global apesar das robustas evidências científicas. Eles
adotam estratégias como a negação literal (“o fenômeno não existe”), a interpretação (“as consequências são exageradas, o aquecimento global é cíclico e natural, não é provocado por atividade humana”). A ação e pressão de negacionistas interfere na implementação de políticas necessárias frente às mudanças climáticas. Alguns líderes mundiais como o atual presidente dos Estados Unidos, apoiado por grupos de
interesse como setores e indústrias de combustíveis fósseis, têm se posicionado explicitamente como negacionistas climáticos, impactando de forma preocupante o cenário atual. Optando por uma visão de ganho econômico de curtíssimo prazo, ignoram os altíssimos e irreversíveis custos ambientais, conduzindo todo o planeta para um cenário futuro sombrio e distópico. Temos mais recursos tecnológicos para agir do que há dez anos. Mas os entraves são de natureza política, agravados pela
desigualdade na responsabilidade climática, conflitos e crises internacionais, falta de cooperação financeira entre países ricos e pobres e pressão de países que alegam custos elevados para uma transição energética.


Neurodiversidade no debate ambiental


A COP 30 também deve reforçar a necessária democratização dos processos decisórios e de governança ambiental, enfatizando a necessidade de ações mais justas, inclusivas, participativas e eficazes, considerando a diversidade humana. Neste sentido, pode-se levantar a questão de quem tem efetiva vez e voz nos debates de fóruns ambientais. Indivíduos neurodiversos são impactados de modo singular pelas mudanças climáticas. Pessoas com autismo, por exemplo, podem ser particularmente afetadas por desafios sensoriais, interrupções na rotina e vulnerabilidade frente a emergências e falta de serviços de suporte. O quanto essas pessoas têm sido ouvidas e representadas nas discussões climáticas? Ativistas como a jovem sueca Greta Thunberg, que declarou ter sido diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista nível 1 e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade mostram como vozes atípicas e
neurodiversas vêm se destacando na defesa do meio ambiente, de modo focado, comprometido, ético e com engajamento profundo, desmistificando preconceitos e inspirando outras pessoas e grupos.


E você? O que tem feito pelo meio ambiente? Informe-se para não cair na cilada das
fake news, cuidado no uso das redes sociais, repense seus hábitos de consumo, mobilize sua comunidade, pressione autoridades e faça sua parte. Rumo a um Brasil mais ético, solidário, justo e sustentável. O planeta agradece.

Sugestões de leitura:


Artigo : COP 30, Neurodiversidade e Interdisciplinaridade – desafios e
potencialidades para uma governança climática inclusiva
Autores : Dora Lúcia da Silva Terras , Milvio da Silva Ribeiro


Disponível em : DOI: https://doi.org/10.56069/2676-0428.2025.674 acesso em
05/11/2025

Conheça 30 fatos sobre a crise climática que explicam a urgência de agir e o
potencial das soluções.


Disponível em : https://www.undp.org/pt/brazil/stories/o-clima-conta acesso em
05/11/2025

Autora:

Mônica Waldhelm

@waldhelm.monica


mwaldhelm@gmail.com


Licenciada em Ciências Biológicas, Mestre e Doutora em Educação. Professora titular
pelo CEFET-RJ. Consultora em Educação da UNESCO, Revista Ciência Hoje das
Crianças e de outras instituições. Autora de livros didáticos de EF e EM pela Editora
do Brasil e outras publicações.

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