Reprodução: Paulo Pinto/Agência Brasil
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Domingo, 21/09/2025, as ruas voltaram a falar mais alto que os salões abafados da Câmara dos Deputados. Milhares de pessoas tomaram praças e avenidas em diversos estados para protestar contra a infame PEC da Blindagem – aquela proposta indecente que tenta blindar parlamentares contra investigações, exigindo autorização do próprio Congresso para que se investiguem seus membros. Em outras palavras: um escudo legal para a impunidade.

Mas, como já dizia Rui Barbosa, “a pior ditadura é a do Poder Legislativo, pois contra ela não há a quem recorrer”. E é justamente contra essa ditadura disfarçada de legalidade que o povo se levanta agora. A indignação tomou forma, os protestos cresceram, e, mais uma vez, o Brasil provou que a democracia não se constrói só nas urnas, mas também nas ruas.

Essa mobilização popular remete a momentos emblemáticos da nossa história. Em 1992, foi o povo pintando a cara que derrubou Collor. Em 2013, apesar da confusão ideológica que se instalou depois, as manifestações começaram exigindo transporte público digno e escancararam a desconexão entre governo e governados. A reação à PEC da Blindagem mostra que a população ainda tem faro para injustiça e apetite por dignidade.

Como ensinava John Locke, quando um governo deixa de proteger os direitos do povo e passa a proteger a si mesmo, o povo tem o direito – e o dever – de resistir e derrubá-lo. Antonio Gramsci já falava da importância da “guerra de posição”, aquela batalha travada nos terrenos da cultura, da opinião pública, da consciência. Os atos contra a PEC são parte dessa guerra: uma recusa clara a aceitar passivamente que políticos legislem em causa própria com ares de normalidade.

O bolsonarismo, herdeiro direto de um autoritarismo ressentido, aposta no enfraquecimento das instituições e na manipulação das massas. Mas quando essas massas acordam e percebem que foram feitas de escudo para proteger corruptos, a reação vem. E vem forte.

Não estamos diante de uma simples disputa jurídica ou legislativa. Estamos diante de um choque entre projeto de país: de um lado, o Brasil da blindagem, da casta intocável; do outro, o Brasil da praça, do grito, da resistência.

E a história, como sempre, assiste. E cobra.

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